segunda-feira, 30 de julho de 2012

O alarme interno


“Deveríamos ouvir mais os instintos”, postou uma veterinária no facebook, referindo-se à gata que "sumiu" da casa da adotante dias depois da doação. Eu não poderia concordar mais com a frase. Na única vez em que ignorei meu “alarme interno”, me arrependi profundamente.

Começamos a resgatar e doar animais em 2006 (os resgates começaram antes, em 1998, mas os 4 primeiros sortudos ficaram conosco). No início exigíamos telas e...só! O questionário era basicão, não filtrava nada (aliás, o mesmo modelo que as ONGs usam atualmente). De acordo com nossa "lógica" da época, se a pessoa se dispôs a pagar pela instalação de redes de proteção, certamente não era irresponsável nem mesquinha (santa ingenuidade, Batman!). Apesar dos critérios frouxos, tivemos sorte e atraímos adotantes bem decentes (alguns excelentes). Aí, em 2007, apareceu a fulana. Marinheira de primeira viagem, cheia de conversa mole, jurou que não pretendia adotar a gata e se mandar para outro país, como sua mãe nos alertou ("não se preocupe quanto a isso, eu tenho plena consciência da responsabilidade que estou assumindo. é como ter um filho, na minha opinião, a rotina, a vida, tudo vai mudar pra mim e eu estou disposta a isso!", prometeu via email). Garantiu que poderia sustentar a gata sem problemas, mas deu sinais claros de que as coisas não eram bem assim ("ainda não comprei tudo que tenho que comprar pra ela, porque no petshop aqui do lado de casa é caro demais". Os itens eram: bandeja sanitária, , areia, 2 potes e ração de supermercado!). Os sinais estavam todos lá, eu percebi, estava superinsegura, mas era a primeira gata que ameaçava encalhar, uma pressão enorme da família para doar, então eu cedi. Doei com o coração apertado e em nenhum momento consegui relaxar. No início trocamos vários emails, mas de repente o contato foi totalmente cortado por ela. Logo descobri o motivo do sumiço: fulana tinha se mudado para a Europa! A gata foi parar no apartamento da mãe (que não foi a primeira opção, já que os gatos de um amigo "não aceitaram" dividir o território) e antes da instalação das redes de proteção (msg da irmã no facebook: "veio pra cá sim com o apartamento nao telado, mas nao levou nem uma semana pra telar tudo” - isso se for verdade, já que elas mudavam de versão a cada conversa). Detalhe: telaram as janelas, mas deixaram a varanda sem telas (a foto da gata deitada na cadeira da varanda sem telas deletaram do orkut e hoje negam a conversa que tiveram com minha irmã na época sobre o assunto: "como vc sabe que as fotos que vc viu no orkut nao eram antigas???". Antigas com a gata na foto? Dá até preguiça...), só depois de sei lá quantos meses resolveram abrir a carteira e telar o que faltava. Nesse tempo todo a gata contou com a sorte. O fato de continuar viva e atualmente "viver em segurança" não diminui a culpa de colocá-la nas mãos dessa gente, depois de criá-la, com todo carinho, por 7 longos meses.

De certa forma nosso erro serviu como aprendizado. Após esse episódio reavaliamos todos os nossos critérios e reformulamos o questionário (que é atualizado/modificado constantemente). Por isso deixamos de doar gatos para marinheiros de primeira viagem (sei que existem exceções, mas não pretendo arriscar novamente, pelo menos enquanto não  desenvolver o superpoder de prever o futuro). Também não doamos gatos para pessoas com "grana curta" ou que se mostram mesquinhas com os animais de estimação. Agora nossos protegidos só saem daqui para as mãos de adotantes de altíssimo nível (inclusive no quesito educação, porque não há nada mais desgastante que lidar com gentinha). Aprendi a não duvidar mais do meu "alarme interno" e a lidar muito melhor com a "pressão para doar". 

Meu consolo é saber que gente desse tipo não passaria pelo nosso crivo atualmente. Isso foi comprovado quando a irmã da fulana respondeu (ironia do destino?) o meu questionário na tentativa de adotar o gato de uma amiga (que pediu o modelo "emprestado"), em meados de 2010.  Em várias situações ela aceitaria repassar o gato para a mãe ou amigos: mudança de país (surprise, surprise), morar com alguém que não gosta de gatos (??), criança alérgica em casa (pra mim só existem 2 situações aceitáveis: perder tudo e virar mendigo ou se descobrir com uma doença terminal). Ração? Whiskas e Friskies ("não economizo com a saúde dos meus animais", a tonta afirmou numa das respostas)! Banho em pet shop? Largam a gata na mão de um funcionário e vão "deitar na rede" ("Eles pegam a minha gata em casa e depois a traz de volta" (sic). É muito desapego). Apesar de ficar triste pela gata, que poderia ter ido para um adotante bem superior (o que não seria muito difícil, no caso), fico aliviada por perceber que conseguimos nos "blindar" contra candidatos desse (baixo) nível.

Posso perder alguns bons adotantes por excesso de zelo? Talvez, apesar de nunca ter me arrependido das doações que deixei de fazer (não é raro que eu descubra algum podre depois, inclusive). Mas entre me arrepender de doar um animal para um mau adotante e deixar de doar para um bom, opto pela segunda alternativa sem pestanejar. :)
 
Acredite se quiser (ou puder) 1: éramos ignoradas quando fazíamos um trabalho tosco, hoje em dia recebemos críticas constantes e de todos os lados!
* Obs: nossa definição de "tosco" é BEM diferente da maioria, que fique claro, já que mesmo naquela época já exigíamos telas, fazíamos questão de entregar o gato na casa do adotante e doávamos animais já castrados.

Acredite se quiser (ou puder) 2: chegou aos meus ouvidos que há um boato sendo espalhado por aí com a "explicação" para a nossa fixação por telas. Parece que um de nossos protegidos caiu de uma janela basculante e morreu! WTF?? Bom, ninguém caiu nem morreu, mas não há dúvidas de que isso poderia ter acontecido, como exposto acima. Gastem o tempo de suas curtas vidas fofocando sobre os outros, mas não inventem. Grata.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Novo programa sobre comportamento felino!

My Cat from Hell, que já está em sua 3ª temporada nos EUA, finalmente estreará no canal Animal Planet daqui, com o nome "Meu Gato Endiabrado", amanhã, dia 20, às 20h. O programa é, na minha opinião, obrigatório para quem quer entender mais sobre comportamento da espécie e melhorar a qualidade de vida dos gatos que cria. Recomendo MUITO.

Quando? Toda sexta-feira (estreia amanhã, dia 20!), às 20h. Reprise toda segunda-feira, à 1h da madruga.

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"Jackson Galaxy não tem a aparência do que poderia se imaginar de um encantador de gatos. Careca, tatuado, cheio de brincos, seria fácil fácil confundi-lo com um motoqueiro tipo Hell Angel.

Em 'Meu Gato Endiabrado', ele se mostra um apurado especialista em comportamento felino. E um rapaz sensível sobre as relações entre humanos neuróticos e gatos quase selvagens.

A cada episódio, Galaxy acompanha dois casos de animais problemáticos.

No primeiro, atende Bear, um bichano preto que depois de ser castrado ficou muito agressivo, e é motivo de crise no relacionamento dos donos. Os siameses Sully e Lulu também são clientes. Eles sentem a rejeição do namorado da dona e vivem arranhando tudo e todos.

O encantador de gatos explica que são casos difíceis, mas com dicas simples ele opera alguns milagres.

Galaxy ensina brincadeiras para os animais gastarem energia e explica qual a melhor forma de dispor os móveis para os bichanos ficarem à vontade em casa.
Até o tal namorado, que se declarava "antigato", cai no feitiço e se rende aos encantos de Lulu."

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Quem não quiser esperar e tiver um inglês decente, pode assistir aos 2 primeiros episódios aqui.

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http://jacksongalaxy.com 
O site do especialista em comportamento felino do programa tem artigos ótimos e dicas imperdíveis de enriquecimento ambiental (em catfication). Para favoritar.